sábado, 29 de setembro de 2007

CAMA PUTRIDA


Eis que a solidão fantasmagórica da multidão
Ressuscita a esterilidade das fronteiras museificadas
Dissimula estigmas dogmáticos, moribundos de intoxicação
E vislumbra a vingança viva da morte exumada.


Ventilam-se alísios contra o espelho da loucura
E por que não dar palavra aos loucos da tumba do silêncio?
Sob a custódia suicida criogenizada pela cultura
A máquina evangelizada encarcera o verme em tratamento.


O funeral tradicional embalsamado pelo mito invisível
Disfarça o picadeiro de concentração, magnético
E da luz espectral dos sentidos que não é permitido
Escandaliza e exila o gênio maligno poético.


A armadilha do cenário primitivo, prisioneiro do trágico
Enfeitiça o monstro da vertigem obesa
Múmia imutável e cheia de cravo, tinote ralo e sacro
Desvirgina a ternura de vidro, jazigo da pureza.


E o que dizer do espiral fictício encravado no peito?
A tinta do prazer negro é sangue fresco
Na aldeia dos manequins fossilizados e selvagens
Os perfis intérpretes da vida, de novo tribos reféns.


Fantasmas na multidão, estéreis línguas e mãos
No campo, a luz exilada escandaliza a permissão
Mortos sob a custódia do evangelho, tumba do verme louco

Há de ser a múmia eterna ou o trovador embalsamado e morto.

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